quarta-feira, 30 de abril de 2008

Fortaleza

Fortaleza
Armada por dentro
para defesa do ser
para que se possa estar armado
para poder atacar o forte
derrubar as barreiras
acabar com preconceitos baratos
e terminar por deixar um ideal de liberdade
que deverá fazer de amanhã
a paz

ser livre para poder viver
respirar o ar, a fumaça, o pó
de onde chegamos e para onde caminhamos
só o caminho é certo
só o fim é certo

e as ondas pelas quais navegamos
é que fazem chegar ao fundo
e o fundo é utópico
e nunca chega...


escrito às 8:45h da manhã de 25 de agosto de 1979

Esboço ( Por um sentimento eterno)

Tuas mãos são como penas
que dançam ao vento sobre o teclado
e o som sai da pronfundeza da alma
para a profundeza do ser
saber

Viver como gente
ser gente
sentir a melodia como canto de pássaro
coisa natural

Teu corpo é todo feito de tons e sobretons
sua alma é negra
linda

e eu a te contemplar
até o amanhecer.


escrito na madrugada do primeiro encontro com a música
em julho de 1979

Houve um tempo

Houve um tempo
tempo de minha vida
tempo de pensar nas coisas que haviam
naquele tempo

Era um tempo híbrido
tempo de poucas palavras...
notícias de ninguém

Houve um tempo
Um tempo de minha vida
de sobreviver ao sonho
numa visão do agora

Houve um tempo
tempo de encantamento
de sair dali
de ganhar o mundo

Ir levando junto
o sublinhar do vento
e o passar da hora

Houve um tempo
tempo do saber
de pensar no viver
em razão do querer

Houve um tempo
tempo de música
tempo de poesia
nem o imaginar sabia
de onde vinha a alquimia

Houve um tempo
tempo de você
tempo de mim
um só lugar entre nós

Houve um tempo
tempo de ventania
que levantava o quanto o tempo podia
de um passar por sobre mim

Houve um tempo
tempo de um só
tempo de dois
de um só olhar
pra um só depois

Ê dois!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Trabalhe em torno de seu abismo

Há, no seu eu, um buraco profundo, como um precipício.
Você jamais conseguirá preencher esse abismo, porque suas demandas são inesgotáveis.
Você terá que trabalhar em torno dele de modo que, aos poucos, ele se feche.
Uma vez que o buraco é tão grande e sua angústia tão profunda, estará sempre tentado a fugir dele.
Há dois extremos que devem ser evitados:
Estar totalmente absorvido pela sua dor e, permitir que muitas outras coisas o distraiam e o afastem da ferida que quer cicatrizar.

Henri J.M. Nouwen

Sobre o abismo

O quê eu poderia falar sobre o abismo?

Que é um buraco sem fim imensamente assustador?
Um cair infinitamente sem chão?
Aquele deslize momentâneo impossível de se livrar?
Um passo em falso para lugar nenhum?
Um lugar neutro onde colocamos as pessoas que amamos quando queremos fazer algo sem que elas vejam?
Outro lugar neutro de onde jamais conseguimos tirá-las?
O mesmo lugar para onde pulamos depois, sem sequer olhar?
Aquele mesmo de onde jamais conseguimos sair?
O que é o abismo afinal?

ABISMO:

1- Cavidade geralmente vertical com abertura na superfície da terra e fundo desconhecido.
2- Mistério, escuridão, ruína.
3- Situação difícil, distância extrema, último grau, extremo.

Em tudo que é Belo

Eu ainda acredito
Num futuro mais bonito,
Que o novo é bem-vindo
E o amor é infinito.

Eu ainda acredito
Que nem tudo está perdido,
Que o sorriso é sagrado
E aqui é o paraíso
E que tudo estava errado
Sobre o dia do juízo.

Eu ainda acredito
No carinho invés do grito,
Na doçura dos meninos
Que no fundo todos somos.

Eu ainda acredito
Nos heróis adormecidos,
Nessa força que revolta
E nos faz ficar erguidos
Cada vez que nos sentimos
Derrotados e punidos.

Eu ainda acredito
Que depois da tempestade
Vem sempre a calmaria
E consigo a liberdade.

Eu ainda acredito
Em objetos luminosos,
Que há vida no universo,
Outras luas, outros povos,
Eu ainda acredito.

Eu ainda acredito
Nas florestas e nos índios,
Na bravura das leoas,
Na alegria dos golfinhos.
Eu ainda acredito
No galope do unicórnio,
Acredito em gnomos
E no vôo dos tucanos
E no canto das baleias
Alegrando os oceanos.

Eu ainda acredito
Na justiça lá de cima,
Na verdade e na vida
Como o som de uma rima.
E em tudo que é belo
E em tudo que é nobre
Como as cores do arco-íris
Quando a chuva se descobre
E agradece iluminada
Pelo sol de ouro e cobre.

Sei, talvez eu seja visto
Como ingênuo ou demagogo,
Inocente ou pervertido.
Um hipócrita, um louco.
No entanto eu insisto
Nesta chama que consome,
Eu ainda acredito
Porque sofro com a fome,
Porque ainda sou um homem.


Jorge Vercilo

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Sobre tudo o que é Belo

Aqui está umas das mais belas canções da música brasileira de todos os tempos.
Palavras concebidas com a mais alta pureza de expressão, num momento febril do autor, em que sua alma escorreu pelos poros sob forma de palavras, harmonia e amor.
Gravada num momento sublime, no estúdio Companhia dos Técnicos em Copacabana, em voz e piano acústico apenas, um momento realmente inesquecível onde produtor e engenheiro de som choraram. Minha glória foi poder estar e chorar também!
Jamais vou me esquecer daquele dia. È um momento sagrado na minha memória!
Isto é um hino...
Isto é o Jorge. Tradutor de amor em poesia e de versos em verdade.
Veja o link.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lica Cecato

Apesar de ter acabado de chegar em casa, de ter tirado a roupa e os sapatos, colocado um pijaminha bem coloquial e tentado me largar na cama sem pensar que existe amanhã, não resisti a debulhar esse montão de palavras doces que me encheram os ouvidos, hoje, no Bourbon Street - Show de Lica Cecato.

Estou me sentindo flutuar até agora. Pairando, as palavras não me deixaram não escrever. Depois de muito tempo, pela primeira vez consegui ver a mais singela das flores, com um sorriso cativando todos os olhares e um cantar envolvendo toda a respiração de todo aquele lugar. Palco pisado por Ray Charles diz ela soltando a bela voz em homenagem ao ídolo e a todos nós.

Há tempos eu não via alguém tão nítida. Uma pessoa no palco, cantando...um trabalho autoral desprovido de intenção de fazer sucesso, mas com muita intenção de mostrar aquilo que gosta, de compartilhar aquilo que é belo. Uma pessoa de verdade e de verdades...de bom gosto...sem estereótipo, sem personagem. Uma pessoa mulher. Uma cantora de verdade, cantando aquilo que acredita. A verdade que é. Uma obra de arte...um presente. Foi assim que sai esta noite do Bourbon Street, com meus ouvidos cheios de presentes. Agradecida por ter conhecido Lica!