domingo, 15 de junho de 2008

Num segundo sem Cássia Eller

Foi como um estrondo caído do céu.
O sol estava tímido apesar de o calor intenso.
A sala clara. Dia de não fazer nada, mais um ano jazia à nossa porta. Quando, de repente, tudo o que ninguém precisava ouvir naquela hora.

Cássia Eller está morta!

Vítima não sei de quê, numa clinicazinha fajuta do bairro das Laranjeiras, na zona sul do Rio, onde morava.

Não dava pra acreditar porque tínhamos estado com ela em seu último show dias antes.

No palco, num cenário de rosas, uma única flor reluzia linda como eu jamais havia visto nada igual.
Estava ali representada uma mulher singela e tímida, que me mostrava uma pureza da alma de um anjo.
O seu olhar, naquele dia, da profundeza deixava escapar um sorriso raro entre os lábios e com uma enorme delicadeza desnudava um ser feminino com uma sensualidade que se deixava aparecer em cada movimento, num sorrir....num olhar... como jamais era visto em seu erudito gesticular masculino.

Dos bastidores, eu apreciava aquela voz rouca, um instante mágico que eu jamais imaginei estar sendo o último.
A Cássia, como ninguém, emitia uma magia, uma transgressão intrigante, uma clássica coragem de ser aquilo que pensa...parecia não ser deste mundo real.....

Mas no fim do show, pedindo licença à minha timidez e à dela, abri meu coração e mandei de uma única voz:

_ Que mulher era aquela, no palco, hoje...? Linda, singela! que sorriso era aquele?

E no melhor estilo "moleque de rua", recebi um tímido abraço, com um tímido sorriso, numa estritamente tímida despedida!

É difícil acreditar até hoje no que me ficou gravado daquele momento.
Das palavras que a gente sempre deixa de dizer, do sentimento que deixamos de demonstrar. Do deixar pra falar depois....deixar pra depois......que depois?

Se não tivesse falado com a Cássia naquela hora, estaria com as palavras intaladas na garganta, com uma tristeza ainda maior no meu peito...não me perdoando por não ter dito, por ter me privado daquele carinhoso abraço....

A morte da Cássia é uma revolta. Um vazio. Uma voz calada deixada de herança.

Por quê Cássia morreu...???...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sobre o bem-querer

O bem-querer é o sentimento mais profundo e sua natureza é de ser quase tímido.
É o mais fiel dos sentimentos.
Estreito em sua forma, objeto de um sujeito e único, um bem jamais tocado por outrem, subjetivo, íntimo e próprio.
Ninguém pode jamais roubar um sentimento como este. Você pode roubar o amor, a razão, o coração...mas um bem-querer, jamais.
O bem-querer é um gostar verdadeiro, público... privado, às vezes tão inconfessável que secreto. Inviolável.
O que eu sei sobre o bem-querer é um gostar de verdade de alguém. Gostar por gostar, sem querer nada em troca. Sem querer sem querer... só um gostar... que fica guardado por dentro, intocado. Mas que de repente a gente lembra e fica feliz só por lembrar.
É o que há de mais singelo e puro que existe, pois não depende de nada...nadinha.
O querer-bem nasce de um olhar, uma palavra de carinho... um pequeno gesto e uma impressão que fica. E fica pra sempre.
Eu guardo quereres. As pessoas passam mas deixam resíduos de boas lembranças. E uma emoção imensa em cada uma delas.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Cordilheira

Bocejar
Dia claro, vida a verdejar
Luz por entre os cachos amarelos do ipê
Deu pra ver
Você me tocou sem perceber
Você nem me olha
E eu não posso te esquecer
Creio em ti
Se for ilusão, que Deus me guie
O que não fazer pra se merecer tal mulher
Cerração
Noite na janela meu querer
Porque te venero, sempre espero por você

Por sobre a cordilheira, o arco-íris
Meu corpo treme ao pensar no seu, frenesi
Te quero,
Mesmo pra te dar sem ter retorno
Te quero assaz
Te quero assim
Te quero pra mim
Escada pro pecado, caso de amor
Teus lábios tão sonhados
Vão me ter sempre aqui
À espera de um olhar que faz
Dia romper
O céu cair
Noite fechar
E faz o meu ar desaparecer.

O luar que eu vi no lago azul
Daria pra você
O luar que eu vi no lago azul
Num instante se escondeu


Djavan